O último dia em casa, cheio de despedidas

Meus últimos dias aqui foram cheios de emoções, celebrações e despedidas.

Queríamos fazer uma festa de "farewell" em casa... Mas, descobrimos que as crianças raramente comemoravam seus aniversários, pois é muito caro comprar um bolo e não é possível fazer em casa (não tem forno ou fogão).

Então, mudamos de ideia e resolvemos fazer uma grande festa de aniversário para todas as crianças. Compramos balões e enfeites de festa no supermercado (o único da região) e pedimos para encomendar um bolo.

Durante o dia, foi um dia típico em casa... Brinquei com as crianças; ajudei na casa; busquei água e ajudei a cozinhar.



Dia típico em casa, buscando água

Desta vez, fiz algo típico do Brasil para todos experimentarem: creme de abacate! (obrigada, mãe, por me lembrar de como é a receita!). Fui ao comércio comprar os ingredientes e, no final do dia, preparei o creme. Para eles é muito estranho comer abacate com açúcar, como uma sobremesa. Mas adoraram!


No mercado, fazendo compras para o jantar
Preparando o creme de abacate

À noite, começamos os preparativos da grande festa de aniversário. Além de decorarmos toda a sala de estar, também preparamos para cada criança um tipo de "certificado". Em uma folha de papel, colocamos o nome de cada um e logo em baixo descrevemos três de suas características marcantes.

Preparativos para a festa

Enfeitando a casa para a festa
 
O tão esperado bolo...














Após o jantar, ao cantar os parabéns e cortar o bolo, a ideia era entregar cada certificado individualmente, oferecer um pedaço de bolo e tirar uma foto (eles amam tirar fotos). Foi uma ideia brilhante (thanks Wendy!), pois pudemos tornar o momento ainda mais especial. Divertimo-nos, rimos, cantamos e dançamos!


As idealizadoras da festa




Entrega de certificados

Entregando certificado às crianças
A "Grande Família"
E, logo então... Chegou o momento tão esperado (ou não) da minha despedida...
A minha despedida
Não sei bem ao certo dizer como estou me sentindo... Um mix feelings, como eu já comentei com alguns amigos... Por um lado, muito feliz por esta indescritível experiência vivida, mas por outro lado, um pouco triste, pois, depois de duas semanas intensas e 24 horas por dia com a família de Mama Jane e as crianças do Orfanato, não há como não se envolver e querer fazer mais e mais. E eu irei, tenho certeza disso!


Bom, em minha última noite também recebi meu "certificado" pelas duas semanas no programa de Voluntários. E eu recebi muito mais do que isso. Nessa noite vestiram-me e presentearam-me com roupas típicas Masaai; cantaram minhas músicas preferidas; e alguns deles me trouxeram objetos pessoais que queriam me dar de presente para levar para minha família.

 
Meu presente




As meninas mais velhas ficaram ate às três da madrugada desenhando e escrevendo cartas para cada um dos meus sobrinhos, inclusive para Adriano (meu amado!). Teve presentes para minha mãe e irmã, também.

Fiquei muito comovida com o gesto... As crianças quererem que eu levasse um pouco delas em mim... E foi isso que também tentei fazer nestas duas semanas... Deixar um pouco de mim para elas.




Despedida das crianças

Despedida de Sara

Até logo a Mama Jane
Pois é... Acho que estou trazendo de volta muito mais do que pude deixar... Mas, sei que dei o melhor de mim: amor, carinho, atenção, compreensão, sorrisos e lágrimas...

A viagem acabou... Mas, tenho certeza de que minha missão só está começando. Por isso, não vou me despedir... Darei meu mais breve "Ate logo"! Espere por notícias minhas em breve, Mama Jane...Você ganhou mais uma filha!! Nimekukumbuka! (I miss you!)


Despedida na porta da casa

E a vocês, meus amigos, que acompanharam comigo cada momento desta incrível viagem e que puderam sentir, assim como eu, as emoções vividas... Meu muito, muito obrigada!

Vocês não podem imaginar como foi importante o apoio de vocês... Como me senti acolhida e incentivada em continuar a cada mensagem deixada, a cada e-mail enviado, a cada "Curti isso" no Facebook, ou quando compartilhavam o meu blog com seus amigos... E, mesmo aqueles que me acompanharam à distância... Eu sei que estavam lá comigo.

A vocês todos... Meu "Até logo". Mandarei notícias em breve. “My Tanzania Experience" terá próximos capítulos!

Nimekukumbuka, também!

Dando aulas

Praticamente todas as manhãs foram destinadas para dar aula às crianças. Seja na casa da Mama Jane, com as crianças menores da vizinhança que vem todos os dias, ou no Orfanato com crianças entre 2,5 e sete anos.

Dando aulas em casa

A professora Grace foi muito carinhosa comigo, deixando-me livre para fazer o que viesse à mente, como ela dizia. Ela tem 20 anos e só estudou até o secundário, não fez o High School, mas dá aula com toda a dedicação que se possa imaginar. Ela recebe 30.000 shillings por mês, o que representa cerca de 18 dólares (fiz esta conta algumas vezes, pois não conseguia acreditar).

Professora Grace, os alunos e eu

Quando se é formada, uma professora pode chegar a ganhar 120.000 shillings mensais (ou seja, 75 dólares). Mas Grace não é formada e dá aula no orfanato como voluntária, ganhando um valor simbólico e também recebendo uma ajuda para casa com produtos de limpeza e comida. Com esse dinheiro ela paga também os estudos dos irmãos. Este é o único emprego dela. Mama Jane quer ajudá-la a fazer o High School para, assim, poder ter formação para ter um melhor salário.

Enfim... (um longo suspiro)... Continuando...

Como não sou professora e não conheço de didática escolar, antes de vir para cá, pedi algumas dicas com Lu Costa, uma grande amiga pedagoga. Eu trouxe um livro com mais de 250 jogos (emprestado de Flávia, uma amiga do trabalho) e, ao chegar aqui, também recebi "tips" da Wendy (minha amiga norueguesa), que é professora.


Dando aula na escola

Enfim, foram dias de aprendizagem e brincadeiras. Pude ensinar algumas frases úteis em inglês, como: "How are you? How old are you? Where are you from? etc.

Fiz brincadeiras com as cores, com animais, com os números e também ensinei algumas músicas em inglês e danças para crianças. Tinha que ser uma "aula" bem diversificada, pois a diferença de idade dentro da classe era grande e difícil manter a atenção de todos.

Brincadeira imitando os animais
 
Levo cerca de 1 h para chegar à escola. São 20 minutos caminhando até a estrada, mais 15 km de Dala Dala (a super lotação) e depois de 15 a 20 minutos andando até lá (o bairro se chama Ngaramtoni).
 
Mas é recompensador ao chegar e ser recebida por cerca de 40 crianças. Todas querendo te abraçar, querendo colo (nibebe, em swahili) e receber beijos - adoram quando chego, pois encho de beijos cada um e eles acham graça.



Tomando sol de manhã na hora do lanche

Também levei alguns dos brinquedos que comprei no Brasil, e brincaram todos os dias na hora do lanche. Pelo que entendi e vi, não tinham nada para brincar até então.

No pátio da escola com as crianças

A escola é muito, muito carente. Nesta semana fui até a cidade e comprei 50 cadernos escolares para eles, pois os que tinham já estavam rasgados e alguns sendo usados pela segunda ou terceira vez.





Cadernos velhos

Cadernos novos













No final das aulas, todas as crianças voltam sozinhas a pé para suas casas, realmente muito independentes (algo inimaginável no Brasil). E eu as acompanhava, pois também era o meu caminho de volta.



Voltando da escola para casa

Hoje, foi meu último dia na escola... Triste por um lado, mas feliz por ter talvez conseguido deixar algo de mim para elas.

E de volta a casa em Ilikiurei (nome do bairro)... Buscar água, lavar roupas ou ajudar na cozinha...

Ah! Antes que estranhem as fotos... Sim, as meninas aqui de casa fizeram "Rasta" no meu cabelo, como fazem no delas. Eu estou uma verdadeira "Mwaafrika"!

Busus! (beijos!)

O passeio no parque

Um destes dias foi feriado aqui, em nome da lembrança de alguma guerrilha do passado. Portanto, ninguém foi à escola.

Pela manhã, além de brincar com as crianças, tivemos em casa uma espécie de "mercado de artesanatos" feitos pelas viúvas Masaai. Havíamos pedido para trazerem seus trabalhos, pois queríamos comprar para ajudar na renda delas, que depende da venda dos mesmos.
 
Mercado de Artesanato Massai
Compramos diversas peças e a ideia é vendê-las quando chegar ao Brasil (e minhas amigas, na Noruega) e, assim, poder enviar o dinheiro à Mama Jane, na Tanzânia, para ajudar na construção de sua escola e casa, como comentei num outro post (*).

Conto com todos os meus amigos para que eu possa cumprir esta minha promessa, e tenho certeza que farão parte disso!

Fizemos, também, outro tipo de "mercado" na casa, nessa mesma manhã. Desta vez, com as roupas que trouxemos para doar às crianças. Eu havia comprado roupas para os pequenos e minhas amigas trouxeram roupas para os maiores. Todos puderam provar e escolher suas roupas - foi um momento especial e também divertido.


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Vídeo mostrando o mercado de roupas em casa

À tarde, havíamos planejado levar todos a um passeio. Raramente as crianças fazem alguma excursão, pois fica muito caro para Mama Jane pagar para todos. Prontificamo-nos em levá-los e arcar com as despesas.

Fomos ao "Snake Park" (o parque das cobras), cerca de 40min de casa. Muitos nunca tinham ido ate lá (mesmo dentre os mais velhos). Vieram, também, outras crianças da vizinhança, quando souberam que iríamos ao parque.

Tocou-me ao ver que todos colocaram suas melhores roupas e sapatos para ir ao passeio, como se fossem a um casamento. Entendi, então, que realmente era algo importante e especial o que estávamos fazendo. Também caprichamos na nossa roupa para acompanhá-los.

No total estávamos em 34 pessoas em um dala dala ( ou van, tipo lotação mesmo) indo para o tão esperado passeio. Foi uma tarde linda...

No "dala dala" indo para o passeio
As crianças ficaram surpresas com os diferentes tipos de cobras. Puderam ver jacarés e até andar no camelo, no final. Enfim, algo bem diferente do dia-a-dia delas e, obviamente, do meu também.

As crianças andando no camelo


No final do dia, voltamos para casa com a Van, cantando músicas Gospel, como de costume. Ao chegar, ainda tivemos que ter energia para buscar água, cozinhar e lavar a louça...

A hora do jantar II

A hora do jantar I





















Estávamos todos cansados, mas muito felizes com o passeio.

Só posso agradecer por mais este dia!

ASANTESANA!! (muito obrigada, em swahili)

Fim de semana de muita fé

O final de semana foi dedicado à igreja. Tanto no sábado, como no domingo, fomos ao Orfanato, que também funciona como um centro comunitário com sua própria igreja onde Mama Jane é pastora.

Mama Jane, amigas norueguesas e Jessica
O Centro Comunitário e a "Igreja" são no mesmo salão, onde as crianças têm aula durante a semana - somente é mudada a configuração da sala.

De manhã, fomos todos na famosa van para a Igreja. As canções começam dentro do carro. Mais de 30 pessoas cantando e entoando melodias dedicadas a Deus.

Ao chegar lá, encontramos todas as demais crianças e adolescentes do orfanato - cerca de 150 no total. Nem todos são órfãos. Alguns moram com parentes, no caso dos pais terem falecido, ou somente tem um dos pais vivos, normalmente a mãe. Por uma razão ou outra, frequentam o orfanato durante a semana para as aulas, e nos finais de semana dedicados à igreja.

Rezas e Canções

A reza durou toda a manhã e início da tarde. Eu não conseguia entender o conteúdo das rezas e orações, mas pude senti-las como cada um que estava lá. A energia e fé que senti expressada, tanto pelos mais jovens quanto pelos mais velhos, raramente vi.


Rezas na Igreja

Sei o quanto é comum as famílias mais simples se dedicarem à religião e à fé para poderem ter algo em que acreditar e continuar suas duras jornadas de vida. Mas, poder vivenciar e sentir isso ao vivo foi realmente impressionante.

Dançamos e cantamos muito. Agradeceram-nos por estar lá cantando nossos nomes nas músicas.

Momentos de fé e emoção

Em um determinado momento, todos ficaram sentados em silêncio e quem quisesse poderia levantar e fazer seu agradecimento a Deus em voz alta.

Mama Jane agradecendo as oferendas do dia

Quando tomei coragem para levantar e agradecer por estar ali, a emoção tomou conta de mim e não consegui conter as lágrimas e o nó que senti na garganta. Somente consegui dizer o meu muito obrigada em Swahili (Asantesana), e me sentei novamente. Durante algum tempo fiqueichorando em silêncio. Emociono-me novamente agora, somente por lembrar este momento. 


Crianças na fila do almoço

No término da reza, todos almoçaram "ugali" (uma massa feita da flor do milho, água e sal), que também é servida no almoço das crianças todos os dias, pois é uma comida nutritiva e barata. Comemos com a mão, como todos fazem. Ajudei a lavar a louça e, logo em seguida, voltamos para casa.


Ugali, prato servido no Orfanato


Levando as crianças para casa, depois da reza

Eu estava emocionalmente tocada. Vim para o quarto e simplesmente dormi o restante da tarde. Precisava de meu espaço e recompor minhas energias...

É incrível como vamos experimentando novas emoções e sentimentos a cada dia, mesmo quando achamos que já estamos adaptados a uma nova realidade.

Realmente é muito diferente do que eu poderia imaginar... Muita doação... De corpo e alma... E eu não tinha ideia quanta energia e luz isso traz... Achei, sim, que eu estivesse preparada para isso... Mas, quando se vive de verdade, a gente percebe que não sabe nada da vida e tem muito a aprender... Estou aprendendo muito, a cada dia! Foi importante viver isso...

Não elaborei muito ainda, mas acho que tem coisas que devemos somente nos deixar sentir... portanto, fiquei com isso por hoje.

Mungu a kubariki (God bless you)!!

Nota: Os vídeos estão sem áudio, para o que estou tentando corrigir o problema.

Dia de músicas, danças e rezas

Hoje, fomos visitar a propriedade de terra que alguns voluntários compraram em maio deste ano para a Mama Jane construir uma escola para as crianças, e também sua casa própria.


Crianças na casa de Mama Jane

Ela já morou em uma destas casas típicas Massai, feitas a mão com esterco de vaca e madeira. Sim, isso mesmo... Mas teve que se mudar para uma casa maior, pois mais crianças vieram e precisavam de um espaço maior. Muitas famílias ainda moram em casas típicas aqui, é muito comum.

Na casa de Jane e seu marido, são 15 crianças morando, entre 2,5 anos e 16 anos. Todos são órfãos e cada um tem sua forte e, na maioria, triste história de vida, que vou contando aos poucos aqui para vocês.

Mas esta nova propriedade de terra trouxe mais esperanças para a Mama Jane, que nunca desistiu de suas lutas e crenças, como ela mesma diz. Aliás, ela é pastora, então Deus está sempre em suas palavras e ações no dia a dia e das crianças também.


Brincando com as crianças

À tarde fomos ao orfanato, pois as crianças maiores tinham aula de música e danças típicas. Foi uma tarde deliciosa!

Eu estava um pouco tímida no inicio, pois era um momento das crianças e sua professora, aos poucos fui integrando e pude aprender a cantar em Swahili e dançar como uma Masaai. No final, até ensinei as meninas a dançar um pouco de samba. Não podia deixar de ensinar!


Jessica aprendendo a dançar como uma Masaai

Voltamos todos para casa. Como sempre, fomos buscar água para o banho e para cozinhar. Ajudei a descascar batatas para o jantar.

Enquanto a comida ficava pronta, tive uma "aula" de Swahili com uma das meninas (Nembu). Aprendi algumas palavras básicas do vocabulário, e compartilharei com vocês ao longo da viagem. Depois de comer, como todos os dias, ajudei a lavar a louça.

Todos já estavam na sala vendo novela, coincidentemente uma novela brasileira. Dizem que nunca perdem um capítulo: Caminho das Índias - acreditam?

Mama Jane nos pediu desculpas, pois teriam que rezar. Não havia entendido por que pedia desculpas, pois estava muito interessada em participar deste momento. Foi uma mescla de rezas individuais com melodias e danças coletivas. Uma energia incrível! Até as crianças menores participaram.


Reza na casa de Mama Jane

Durou cerca de 1h30. Agora entendi o porquê do pedido de desculpas, pois ninguém conseguiria dormir antes de terminar o ritual. Eu estava encantada com toda aquela fé reproduzida através da música.

A reza terminou à meia noite e todos, exaustos, foram dormir. E eu também!

Kwaheri! (bye, bye!)

Os primeiros dias em Arusha

Depois do choque de realidade que vivi no início, agora nem consigo descrever quanta alegria já tive nestes primeiros dias. Já fizemos tantas coisas que parece que estamos há semanas aqui.
Estou tendo um dia diferente do outro. Tive um dia mais livre para conhecer a cidade, visitar o orfanato e ainda conhecer como vive uma mulher viúva da tribo Masaai.

Começamos o dia nesta visita à casa da viúva Masaai (e assim que eles as chamam). Indescritível como moram: um pequeno quarto para cinco crianças e ela, a pequena sala e uma cozinha fora da casa - eles chamam de cozinha, mas é um espaço a céu aberto com um tipo de prateleira, algumas panelas e pratos, e no chão um lugar para colocar o carvão para cozinhar, direto do chão. Bom, pensando bem, não e muito diferente da casa da Mama Jane (onde estou ficando).

Entramos e sentamos na "sala de estar". Eram tantas as perguntas que eu tinha para fazer e, ao mesmo tempo, eram tantos sentimentos misturados que, no fim, fiquei sem ação... Que sentimento estranho que me paralisou!
Acho que ainda é tudo muito novo, e estou respeitando o meu tempo, como disse uma amiga antes de eu viajar.
Sara, uma das "filhas" de Mama Jane, foi quem traduziu a conversa para nós.
Viúva Masaai e Jessica
Esta mulher Masaai teve nove filhos, todos já grandes e não mora nenhum mais por perto. As cinco crianças que ela cria agora são filhos de uma das filhas que os deixou lá e também foi embora. Ela, aos 65 anos, cria todos eles. Sua renda vem da venda de bijuterias artesanais que ela e outras mulheres Masaai fazem. Quando aparecem visitantes, tentam vender algo... E se não aparecem, não vendem. O governo não ajuda com nada, segundo ela.
Enfim... Foi uma visita bastante amigável e mais um choque de realidade.
Logo depois, fomos conhecer o orfanato... Que incrível! Ao entrar na sala, onde estavam tendo aula de Matemática, as 75 crianças com menos de cinco anos de idade pararam e ficaram nos olhando - os "mzungu", pessoas brancas, como dizem em suahili.

Crianças no Orfanato

Me encantei no primeiro instante. Esta, sim, é a minha vocação: crianças. Elas cantaram e dançaram para nós... E cantamos e dançamos com elas. Algumas vieram para nos abraçar e queriam ficar em nosso colo; outras olhavam de longe com curiosidade. Mas todas queriam o mesmo: carinho e atenção.

Bom, a aula teve que ser interrompida, pois não havia mais concentração para aprender a matemática. Conheci a professora Grace,  que me mostrou o cronograma de atividades ao longo da semana. Estou ansiosa para estar com elas durante a semana.

Saímos do orfanato e fomos à cidade de "dala dala" (as vans que fazem percursos curtos  na cidade - as famosas lotações). Muita gente e comércio de rua. Tudo se vende na rua: chips de telefone, roupas, frutas e verduras, roupas etc. etc. O cheiro é interessante... Um cheiro forte, difícil de descrever... Para o nosso olfato e forte demais e não muito agradável.

Cidade de Arusha
Voltamos para casa, famintos, e almoçamos. A maioria deles comem com a mão, e nós comemos com colher, pois sabem que não é nosso costume. Ajudei a lavar louca e, em seguida, fomos buscar água. Diariamente se busca água para cozinhar, tomar banho, lavar a louça.

Aliás, banho é uma palavra que não usei até o momento. Não há chuveiros e o "banho" se toma na cuba, com uma caneca... Isso mesmo!
De manhã, uma de minhas amigas ajudou-me a lavar o cabelo, jogando água enquanto eu enxaguava. O restante podem imaginar! Banho de gato, sim... Não há outro jeito. E viva os lencinhos umedecidos!!!


Tomando banho de canequinha

À noite jantamos deliciosas tortillas, muito parecidas com as tortillas mexicanas, com feijão, repolho refogado e carne. E depois, "tchai" (o chá) após o jantar. Ajudei a lavar louça novamente e já estava morta de cansaço.
Foi um dia incrível. Tantas coisas novas... palavras, pessoas, experiências. Já me sinto muito melhor, sem aquela tristeza de ontem que me tomou ao chegar. Todos aqui são carinhosos e querem nos agradar... Realmente, desejam que nos sintamos em casa. Hoje, eu me senti.

E inacreditável como o ser  humano é um ser adaptável... Tudo se acomoda e fica bem no final!
Boa noite, Waafrika!

A chegada e as primeiras aventuras

A viagem até a Tanzânia foi mais longa do que imaginei. Peguei o primeiro voo às 18h no sábado, rumo à África do Sul (Johenesburg). De lá fiz a conexão para a capital Dar es Salaam na expectativa de ter alguém da ONG me esperando.
Mas, ao chegar lá, depois de mais de quatro horas de voo, não havia ninguém. Estava sozinha, em um aeroporto precário e sem comunicação (meu celular não estava fazendo chamadas).

Por sorte, eu estava trocando mensagens com minhas "anjinhas" da Noruega e elas me deram todas as dicas. Consegui comprar uma passagem para o aeroporto de Kilimanjaro, onde, sim, estariam me esperando. Era o último voo do dia, não acreditei que deu tudo certo... Senão, teria que ficar uma noite lá em função disso.

Aeroporto de Kilimanjaro
 Bom, o universo está conspirando até agora!

Mais um voo (o 3º do dia), e uma hora e pouco depois, cheguei ao aeroporto tão esperado. Mas, esta minha primeira aventura não havia terminado. Teríamos ainda 1h e meia de transfer até Arusha e o Orfanato.

A ansiedade já estava baixando. Agora era somente vontade de chegar! A estrada era boa e vim conversando com Mac (que estava dirigindo a Van), e sua noiva Naomi, a respeito de curiosidades em geral sobre as mais de 100 tribos diferentes e pacíficas que existem na Tanzânia, o que costumam comer, o preço do frango e da carne, do que se orgulham no pais e os principais problemas etc.

O bairro onde fica a casa de Jane (e onde vou ficar) é similar às mais pobres favelas em São Paulo. Quando perguntei se Mac considerava o bairro pobre, ele disse que não e até me mostrou casas grandes, entre as mais simples.

Enfim, depois de mais de 22 horas de viagem... Finalmente, cheguei ao meu mais novo lar nas próximas duas semanas: o Jane's Orphanage.
Fui recebida por minhas amigas, a "mama” Jane e as crianças... Estas vieram curiosas me cumprimentar e já iam se apresentando e perguntando o meu nome. Todos muito carinhosos a educados. Ajudaram-me a levar a mala ao quarto que estou dividindo com minhas amigas - um quarto bem simples, mas com três camas e um banheiro.

Tinham acabado de jantar, então trouxeram para mim, em  panelas para comer: arroz, feijão preto, banana e "piripiri"  (uma mistura típica de tomate, chili, cebola, cenoura ralada e óleo).
Comi à luz de velas e lanternas, pois tinha acabado a energia (há racionamento durante a noite), um dos maiores problemas daqui segundo Mac, aquele que me trouxe com sua noiva.
Eu, sinceramente, não sabia se estava com fome ou não, se estava com sono ou não... Eu estava tão cheia de emoções, que tive vontade de chorar algumas vezes.
Meu primeiro jantar
Não sei bem ao certo o porquê... A emoção de estar aqui, mas sentindo também um certo medo ao pensar que serão duas semanas. É muito a vida real, como ela é... E, apesar de estar acostumada a ver isso no Brasil, é muito diferente quando se vive.

Por um momento pensei: Isso realmente não é para todo mundo... Precisa ter muito preparo emocional ou desprendimento para estar e ficar... Espero poder ter todas as forças que preciso para conseguir ficar até o fim...
No 1º dia estava, sim, um pouco assustada, só isso. Mas, estar com as meninas aqui me traz certa tranquilidade e calma.
Enfim, não consegui tomar banho, pois tinha acabado a água do balde... Pois é... O banho aqui: só de balde e caneca... Começo a entender a utilidade de tudo que comprei. Que bom!

Boa noite, pois preciso entrar logo no fuso (seis horas para frente). Está levando ainda um tempo para isso!